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Foto do escritorLhenira Vilella

Como narcisistas controlam por meio de crenças

Podemos dizer que as crenças são pensamentos e verdades que criamos sobre nós, os outros e o mundo, decorrentes de um repertório. Imagine que na infância é criado um conjunto de experiências oriundas de modelos que se seguem. A criança não tem hipocampo definido, não tem córtex pré-frontal amadurecido, tudo é emocional, então, ela absorve o ambiente e o comportamento dos outros como se fosse “ela”.


A nossa estrutura cerebral vem com ‘cartuchos’ a mais. Conforme os comportamentos vão se efetivando, as sinapses ficam cada vez mais inteligentes e permanentes. Os neurônios em excesso são desbastados, há uma “poda neuronal” e são firmados os comportamentos que serão permanentes, baseados nas repetições da infância. Então tudo aquilo que é desenvolvido na primeira infância é muito forte, é muito verdadeiro, é muito real e se torna a gente.


As nossas crenças precisam ser sempre examinadas e atualizadas para que a gente se mantenha numa estrutura saudável. Se as experiências da infância não foram saudáveis, houve ambiente violento, invalidação constante, estresse e dinâmicas familiares disfuncionais, se torna necessário esse questionamento. Ao constatar e tornar consciente que o comportamento padrão não é saudável e não está trazendo resultados esperados, o passo seguinte é começar a praticar um novo comportamento.


As nossas ações são o resultado das nossas crenças, logo, para mudança de atitude é preciso visitar esse lugar onde está 'o que acreditamos' e mudar as crenças para agir diferente.


Ao se aproximar de uma pessoa que tem o transtorno de personalidade narcisista, na primeira fase, há uma identificação, na fase do love bombing, essa pessoa vai se tornar muito atraente e interessado na vida da vítima para entender suas fragilidades e suas crenças. O narcisista irá se moldar conforme a necessidade daquele (a) que almeja encontrar uma pessoa que atenda todas as suas expectativas, muitas vezes, devido o passado ter sido vivido com abuso emocional, há um sonho em encontrar alguém diferente, que possa oferecer uma vida nova. Esse sonho leva a vítima a acreditar no outro, sem limites, e a frustração vem depois de descobrir que não era nada daquilo que se havia pensado. Nessa abertura pessoal, são reveladas experiências da infância, o que e como se passaram e o que a vítima sentiu, e, o narcisista fará uso disso, sem misericórdia, quando lhe favorecer e para alcançar seus objetivos. Esses objetivos são egoístas, uma busca de satisfação própria, sem empatia com o outro.


Um parênteses aqui para explicar o por quê do uso da palavra "vítima" no parágrafo acima. Simplesmente porque a pessoa que tem o transtorno age como predador, em busca da satisfação própria e não se importa com o outro. É vítima, porque diante das dinâmicas utilizadas pelo narcisista o outro não tem como se defender, é atraído pelo que busca e acredita que o narcisista é verdadeiro.

Sempre lembramos que aceitar que foi uma vítima é diferente de se vitimizar diante dos outros.


O uso da história da vítima vai reforçar a crença que ela tem de si. É o momento da invalidação. Se no início o narcisista havia dito que 'te entendia' e que o que os seus pais diziam não era verdade, no momento da invalidação, ele vai exatamente trazer essa história à tona, reforçando a fala dos pais que já a (o) invalidavam. Por exemplo, se o pai disse à criança que ela era "atrapalhada" e depois de adulta, ela conta isso ao parceiro, esse parceiro, se for narcisista vai acusá-la disso: "Como seu pai dizia, você é atrapalhada mesmo, ele estava certo!". A crença central está enraizada de tal forma, que você vai acreditar e fortalecer a crença de que é atrapalhada (o).

Diante do comportamento estranho da pessoa que você conheceu e acreditou que era boa (narcisista) e em busca de justificativa, muitas vezes, a vítima permanece por muito tempo com uma ideia errada de si e do outro.


Quando você está sob o controle de uma pessoa narcisista patológico, ele veta a sua liberdade de expressão e questionamento. Pode se tornar agressivo ou tentar te desqualificar conforme suas vulnerabilidades que ele já estudou e conhece, com objetivo de te levar ao constrangimento.


Muitas pessoas pensam sobre o porque de não ter dito "não" a tantas situações e na maioria das vezes, essa pessoa pensou em todo mundo, menos nela própria. Em situações de constrangimento criada pelo narcisista, primeiro vem o pensamento de agradar sempre o outro. Ao confrontar, a vítima é exposta e o medo da exposição é tão grande devido às experiências, que essa opção de confrontamento é descartada. A ideia de que dar uma "resposta" à altura do abuso pode parecer arrogante ou muito chato, a escolha é ficar quieto. Mas vai chegar uma hora que haverá um limite de suportar essa dinâmica e aprender a lidar com isso é importante.


Lembre-se de que você tem uma pureza, inocência e ingenuidade e exatamente por isso confiou no outro e pode ter feito muitas coisas que não faria sem a influência do narcisista. Ao descobrir sobre o transtorno no parceiro (a), seja autônomo (a) e corajoso (a) o suficiente para criar novos hábitos, de acordo com o que retrata a realidade dos fatos.


Questionar as próprias crenças é muito saudável


Até mesmo a ciência se atualiza conforme novos experimentos e testes vão sendo criados com objetivo de adquirir mais conhecimento e aproximar-se da verdade.


Ao mergulhar na sua história, juntar fatos e entender algumas impressões da infância irá ajudar a esclarecer o motivo de repetição de alguns comportamentos que lhe trazem danos. Isso lhe dará força e condição de romper com vínculos e até mesmo instituições para quebrar uma crença dentro de você e, de forma consciente, fazer melhores escolhas.

Busque ajuda de um profissional que entenda do assunto. Se não for possível nesse momento, busque conhecimento com leituras, vídeos e absorva o que lhe traz uma coerência e visão da sua história.


Texto baseado na sequência de vídeos do Canal Psicanálise & Eu, no YouTube, com o título: "Como narcisistas controlam por meio de crenças", parte I, 16/abril/2023.



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