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Contato zero com os pais tóxicos - É possível?

Foto do escritor: Getulio TamidGetulio Tamid


Quatro gerações
Quatro gerações

Quando enfrentamos desafios em relacionamentos, temos basicamente três opções para escolher: resolver o problema, aprender a conviver com ele ou, em último caso, nos afastarmos da situação. Essa lógica funciona bem para relações de amizade, colegas de trabalho ou mesmo relacionamentos amorosos. Mas e quando a questão envolve nossos pais? Será que é possível, de fato, romper o vínculo com eles e aplicar a técnica do contato zero?


A complexidade da relação com os pais


Quando falamos de pai e mãe, estamos lidando com relações profundamente enraizadas, tanto no nível emocional quanto simbólico. Pais não são apenas pessoas com quem convivemos ou com quem temos laços de sangue; eles representam um arquétipo, uma base essencial da nossa identidade física, emocional e transcendental.


Mesmo quando não há convivência direta, como no caso de filhos adotados, é comum que surja uma curiosidade ou um desejo de entender quem foram os genitores biológicos. Isso ocorre porque a ideia de "pai" e "mãe" carrega um peso simbólico e emocional que é difícil ignorar.


Quando o rompimento se torna necessário


Embora seja desafiador, há situações em que o rompimento pode ser a única alternativa para preservar a saúde emocional. Casos de abusos, traumas ou relações tóxicas podem levar uma pessoa a decidir cortar laços com seus pais. Mas mesmo nessas situações extremas, a desconexão completa é complexa.


Por exemplo, um homem que decidiu romper com o pai devido a traumas passados foi chamado pela polícia anos depois porque o pai, vivendo sozinho, estava em uma situação precária. Legalmente, ele ainda era o responsável por cuidar dessa figura parental. Esse exemplo ilustra como, além do laço emocional, existem também responsabilidades sociais e legais que podem dificultar o afastamento total.


As marcas invisíveis do rompimento


Mesmo quando o afastamento é fisicamente possível, os pais continuam presentes de forma simbólica. As lembranças, as experiências vividas e o impacto emocional permanecem. Esse legado pode influenciar outras relações e até o modo como a pessoa enxerga a si mesma.


Uma desconexão emocional não trabalhada pode resultar em problemas internos, como sentimentos de culpa, raiva reprimida ou dificuldades em estabelecer novos vínculos. Portanto, quem decide cortar laços com os pais precisa estar preparado para um profundo trabalho interno. Entender essa relação e processar as emoções envolvidas é essencial para que esse afastamento seja, de fato, libertador.


Encontrando o equilíbrio


Nem sempre é necessário um rompimento definitivo. Em algumas situações, o afastamento parcial ou a redefinição de limites pode ser suficiente para melhorar a dinâmica familiar. A terapia é uma aliada poderosa nesse processo, ajudando a pessoa a compreender o que é saudável e o que não é, e a encontrar um meio-termo que funcione.


No entanto, se a decisão for mesmo romper, é importante lembrar que não se trata apenas de "deixar para trás". Trata-se de aceitar o impacto que esses vínculos tiveram e aprender a crescer a partir disso, buscando relações mais saudáveis e construtivas no futuro.


Ainda somos os mesmos e vivemos como nossos pais?


A canção de Belchior nos convida a refletir sobre a tendência de responsabilizar nossos antepassados pelas dificuldades que enfrentamos na vida. Para a psicanálise, no entanto, o indivíduo é convocado a assumir a responsabilidade por seus próprios desejos, reconhecendo que eles estão profundamente enraizados no inconsciente. Essa perspectiva destaca a importância de trabalhar os recalques que, muitas vezes, nos aprisionam em dinâmicas herdadas, mas que precisam ser elaboradas para que possamos nos libertar desse engano em forma de mecanismo de defesa e construir uma existência mais autêntica e alinhada com nosso próprio caminho.


Para refeltir


Romper com os pais é uma decisão profundamente pessoal e, muitas vezes, dolorosa. Ela exige coragem, reflexão e, acima de tudo, autoconhecimento. Não importa o caminho escolhido — afastar-se ou buscar uma forma de conviver —, o mais importante é cuidar de si mesmo e buscar um equilíbrio que permita viver de forma plena e autêntica.


Nunca se esqueça disso: pais podem ser figuras únicas, mas o que realmente importa é como você escolhe construir suas relações e seu futuro.



 
 
 

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