O senso comum entende que uma pessoa que tem depressão é aquela que vive numa profunda tristeza. Porém, há muitas pessoas que estão em depressão e os outros não percebem.
Pessoas aparentemente felizes, principalmente nas redes sociais , demonstram grande alegria e contentamento, mas no seu mais profundo estão deprimidas. Entre essas, podemos incluir os sobreviventes ou vítimas de relacionamento com pessoas com transtorno de personalidade narcisista.
Pela perspectiva da neurociência, todos os estados físicos são respostas químicas que acontecem no cérebro, tudo é tratado com base na neurotransmissão.
Se há dopamina no organismo de uma pessoa de forma regular, os movimentos (braços, pernas) são normais. Na velhice, por exemplo, há uma diminuição de dopamina e em consequência disso, os movimentos ficam mais lentos, com menos precisão, e o contrário também acontece, quando há excesso de dopamina, como é o caso de tiques motores, síndrome de Tourette, por exemplo, onde os movimentos ficam descontrolados.
Não se sabe se o excesso de dopamina é produzido por ansiedade ou se a ansiedade faz com que a dopamina seja produzida em excesso.
A mesma hipótese pode se aplicar à depressão. Se uma pessoa tem falta de produção ou captação de serotonina, ela fica menos alegre, menos motivada e com pouca iniciativa. Quimicamente não se sabe se a falta desses neurotransmissores causam a depressão ou se a depressão causa a falta de neurotransmissores. Esse é o paradoxo que ainda permanece.
Se faz necessário buscar a melhor forma para regular essa produção de neurotransmissores, seja por meio de medicamentos, mudança na alimentação ou na prática de exercício físico, ou ainda numa combinação entre esses elementos.
É sabido que em países de temperaturas fria há um maior número de depressão e suicídio. Muito frio, falta de sol e de vitaminas naturais pode causar alterações físicas e mentais.
O comportamento aprendido pode mudar a expressão genética da célula.
Existem pessoas que ao fazerem uma auto avaliação chegam a conclusão de que eram mais felizes antes de conhecerem determinada pessoa. Passaram a desenvolver hipertensão, diabetes, se tornaram mais infelizes devido a tantas frustrações, decepções e sendo desorientadas pela prática de gasligthing (técnica de manipulação que os narcisistas usam para mudar a impressão que você tem das coisas, substituindo a realidade verdadeira por uma realidade forjada por eles mesmos), após se tornarem vítimas de abuso e terem seus comportamentos forçadamente mudados.
Quando a pessoa é vítima de predadores, ela passa a ter déficit em sua percepção. Com a percepção enganosa e mudada, a pessoa passa a duvidar de si mesma.
A diferença entre a saúde e a patologia está na intensidade das coisas.
É normal ficar triste, mas não é normal ficar triste todos os dias. É normal sentir fome, mas não toda hora. Ao perceber que se está nesse estágio, é hora de procurar ajuda. Muitas vítimas de abusadores não sabem que estão deprimidas.
Usar um índice de comparação pode ajudar a clarear a visão.
É comum que ao ver determinados relatos sobre alguma síndrome ou doença, a pessoa identifique em si mesma as características desses transtornos. Relatos de outras pessoas sobre casos de abuso podem provocar percepção sobre algo estranho dentro da relação vivida. Se há situações em que você fica preso, sabendo que estão abusando do seu tempo, disponibilidade, dinheiro, sexo e mesmo assim não consegue sair, você pode chegar a pensar: "o que há de errado comigo?" E pensar assim é uma forma de se afundar mais ainda, achando que o problema está em você mesmo. Se isso acontece, dê um passo para analisar melhor essa relação.
Haverá sempre o reforço do narcisista jogando a culpa na vítima.
Outros sinais de depressão maior podem ser perda de peso, insônia ou muita sonolência; fadiga, perda de energia, sensação de inutilidade e culpa excessiva; capacidade diminuída de concentração, agitação ou retardo psicomotor; pensamentos suicidas, entre outras coisas. É preciso buscar ajuda profissional.
Sair da teia
Caso identifique que está em um relacionamento abusivo, será necessário retirar o afeto. Isso é muito difícil porque é justamente o afeto que te faz permanecer nessa teia. A dificuldade de sair de uma ilusão, formada há muito tempo, vai mexer muito e gerar uma depressão inevitável e totalmente legítima para a sobrevivência e resiliência da vítima.
Lembrando que depressão é um nome figurado que significa descer e não conseguir subir; é estar em um nível abaixo do normal e pode ser desencadeada por vários motivos.
A tristeza é o resultado da falta de criatividade, apetite, motivação, de não ver o sentido das coisas. Por isso, a avaliação superficial da depressão é a tristeza permanente.
Para sair do relacionamento com pessoas com transtorno de personalidade narcisista é necessário ter criatividade e na depressão, vimos que se trata de um estado em que o lado criativo está comprometido, afetado negativamente.
A medicação apropriada e supervisionada por um profissional faz com que novos neurônios nasçam . O efeito normalmente começa depois de três semanas, que é o espaço de tempo onde ocorre a neurogênese (nascimento de novos neurônios). Imagine um aquário, onde os peixinhos precisam de alimentação para crescerem. Agora imagine que os neurônios são esses peixinhos e o aquário seu hipocampo. Eles precisam ser cuidados para crescerem e, a medida que começarem a fazer novas sinapses, a criatividade vai voltando, pois o aprendizado constante é condição sine qua non para a adaptação ao ambiente.
O narcisista é extremamente criativo, inclusive para te manter preso no relacionamento. É vantagem para ele que você continue deprimido e, portanto, sem criatividade para escapar dos seus ardis.
texto baseado no vídeo de 01 de agosto de 2021 do canal Psicanálise & Eu no Youtube
Muito obrigado pela contribuição, Lhenira! Ótimo texto